sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Expedição no Amazonas vai divulgar astronomia indígena
edu dallarte


Constelação cuja figura representa uma cobra surucucu segundo a astronomia indígena



Calendário indígena do povo dessana associa constelações às mudanças do clima e ao ecossistema amazônico.



Surucucu não é apenas a mais perigosa serpente da Amazônia. Para os povos indígenas da etnia dessana, também é uma das inúmeras constelações que os ajudam a identificar o ciclo dos rios, o período da piracema, a formação de chuvas e sugere o momento ideal para a realização de rituais.


Na astronomia indígena, outubro é o mês do desaparecimento da constelação surucucu (añá em língua dessana) no horizonte oeste - o equivalente a escorpião na astronomia ocidental.


O desaparecimento da figura da cobra está associado ao fim do período da vazante. Os dessana tem outras 13 constelações, sempre associadas às alterações climáticas.


Para divulgar a respeito da pouco conhecida astronomia indígena, um grupo de estudiosos promoverá no próximo dia 19 uma expedição de dois dias a uma aldeia da etnia dessana localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Tupé, em Manaus.




Expedição




A comunidade é composta por famílias dessana que se deslocaram da região do alto Rio Negro, no Norte do Amazonas, e ressignificaram suas tradições, cosmologias e rituais na comunidade onde se estabeleceram na zona rural de Manaus.


O astrônomo Germano Afonso, do Museu da Amazônia (Musa), que desenvolve há 20 anos estudo sobre constelações indígenas no país, coordenará a expedição. Com os dessana, o trabalho de Germano Afonso é desenvolvido há dois anos.




FOTOS: Alexandre Fonseca


Pajé Raimundo Dessana, morador da aldeia localizada na RDS Tupé, em Manaus


Ritual de indígenas do povo dessana que vive em comunidade na zona rural de Manaus



Ele descreve a programação como um “diálogo” entre a astronomia indígena e o conhecimento científico.


“Será um diálogo entre os dois conhecimentos. Vamos escutar os indígenas e ao mesmo tempo levar uma pequena estação meteorológica que mede temperatura e velocidade. A ciência observa com equipamentos, o indígena vê isso empiricamente”, explicou.


Uma embarcação da Secretaria Estadual de Saúde (Semsa) levará as pessoas interessadas em participar da experiência.


“Vamos fazer atividades de astronomia, meteorologia e química com os indígenas. Será uma atividade integrada à Semana de Ciência e Tecnologia”, explica Afonso.


O traço identificado como surucuru pelos indígenas é mais visível por volta de 19h, pelo lado oeste. Depois da surucuru, é a vez do tatu – outra espécie comum na fauna amazônica.




Desastres




Germano Afonso conta que os povos indígenas observam o céu, a lua, as constelações e sabem exatamente qual a época ideal para fazer o roçado, para se prevenir de uma cheia ou de uma seca. Também sabem qual o momento ideal para realizar um ritual.


A diferença em relação ao conhecimento científico, ocidental, é que não utilizam equipamentos e tecnologia para prever alterações do tempo e mudanças do clima.


Mas há uma diferença mais significativa: os indígenas não caem vítimas de desmoronamentos, de grandes cheias ou de uma vazante extraordinária.


“Quem tem mais cuidado com o meio ambiente e evita os desastres ambientais? Os índios sabem exatamente quando vai cair uma chuva forte e teremos uma grande enchente. Mas eles não morrem por causa disso”, destaca Afonso, que tem ascendência indígena guarani.





Fonte: A Crítica

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