terça-feira, 15 de novembro de 2011

Portugal na corda bamba




Portugal teme ter um final similar ao da Grécia







Na última quinta-feira (3), um dia depois de Georges Papandreou ter anunciado seu explosivo referendo na Grécia, a notícia mais lida na edição digital do “Jornal de Negócios”, em Portugal, foi: “É melhor para a Grécia sair? E depois, vamos nós?”. Os portugueses se sentem como uma peça de dominó colocada atrás da Grécia e assistem com uma mistura de estupefação e temor à crise política do país helênico e a seus flertes com o abandono da Europa.


Talvez, por isso, é uma obsessão em todo o país – que titubeou financeiramente este ano e em maio pediu um socorro de 78 bilhões de euros – tentar separar-se o quanto antes e o máximo possível do caos grego, a fim de que a Europa deixe de olhá-lo com suspeita. O primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, que anunciou há semanas, entre outras medidas para conjurar o déficit, que os funcionários públicos e os aposentados ficarão sem salários extras no próximo ano, foi claro ao comentar o desafio de Papandreou à UE: “Espero que Portugal se aplique para demonstrar à UE e ao mundo, inclusive agora com mais determinação, se possível, que não seguirá esse exemplo. Não queremos ser confundidos com o que está ocorrendo na Grécia, e isso depende totalmente de nós”.


Ninguém em Portugal, nem à direita nem à esquerda, nem mesmo nas primeiras horas do anúncio de Papandreou, se atreveu a insinuar a conveniência de um referendo parecido com o da Grécia. O Partido Comunista português e o Bloco de Esquerda, contrários aos cortes e aos ajustes, responderam que não constitui prioridade portuguesa uma consulta popular nesse estilo. Preferem lembrar, como arma de luta, a greve geral convocada pelos dois principais sindicatos para 24 de novembro, a fim de protestar contra a política econômica do governo refletida no orçamento de 2012, que começará na próxima semana a ser discutido no Parlamento.


O Partido Socialista português, a principal força de oposição do país, também não pede um referendo parecido. Além disso, o secretário-geral do PS, José Antonio Seguro, defende que seu partido se abstenha na hora de votar o citado orçamento. Apesar das vozes em seu próprio partido que o impeliam a votar contra, Seguro prefere se abster, segundo explicou, para reforçar a credibilidade do país. “Não farei a Portugal aquilo que o líder da oposição grega faz na Grécia”, acrescenta o líder socialista português.


Portugal – um país acostumado a se ver distante dos lugares onde são tomadas as decisões planetárias – não quer sair do euro ou da Europa. No entanto, há quem pense que toda essa aplicação para se afastar do indisciplinado aluno grego não servirá sequer para aguentar dentro da classe.


“Tememos que os países do norte, que não nos querem na zona, decidam finalmente expulsar a Grécia e também nos expulsarem de passagem: aos irlandeses, que também foram socorridos, não expulsarão porque falam inglês, e Espanha e Itália são potências indiscutíveis. Mas nós estamos em uma esquina, como a Grécia”, opina Manuel Ennes Ferreira, professor de economia no Iseg (Instituto Superior de Economia e Gestão) da Universidade de Lisboa.


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