Fim do mundo em 2012Ao misturar arqueologia, ciência e religião, teorias apocalípticas ganham popularidade e fazem crescer o número de pessoas que se preparam para o juízo finalPaula Rocha, Flávio Costa e João Loeshttp://www.istoe.com.br/reportagens/184613_FIM+DO+MUNDO+EM+2012?pathImagens=&path=&actualArea=internalPage Aos 71 anos, o relojoeiro aposentado Tikao Tanaka passa seus dias contando as horas que lhe restam até o mundo acabar. O senhor de gestos contidos e sorriso tímido, natural da cidade de Guararapes, no interior de São Paulo, diz estar se preparando para o fim dos tempos, marcado para o dia 21 de dezembro de 2012. Junto de sua família, Tanaka comprou uma propriedade de 20 mil metros quadrados no município de Alto Paraíso de Goiás, na Chapada dos Veadeiros, um dos poucos lugares, que, segundo ele, serão preservados após um tsunami devastar a costa brasileira no dia fatídico. "Quando a hora chegar, vou me mudar para lá de vez", diz. Acreditando na mesma teoria apocalíptica, a irmã e o cunhado do relojoeiro já estão na cidade goiana há pelo menos três meses.
A exemplo dos discípulos do professor Hirota, muita gente acredita que o mundo pode acabar em 2012. Ou pelo menos que catástrofes e tragédias de proporções nunca antes vistas estão marcadas para ocorrer no próximo ano, mais especificamente no dia 21 de dezembro. A data, que assinala o fim do calendário solar dos maias – uma das mais importantes civilizações pré-colombianas –, levantou toda sorte de teorias apocalípticas e desencadeou um fenômeno cuja magnitude se compara aos desastres previstos. Segundo um relatório da "Missão Interministerial de Luta contra Seitas" (Miviludes), da França, foram registrados mais de 2,5 milhões de sites que propagam profecias sobre 2012. Já existe até uma rede social exclusiva para aqueles que acreditam nas teorias fatalistas e desejam se preparar para o dia final. Chamado "2012 Connect", o portal conta com mais de 1,5 mil membros. O site da Nasa (Agência Espacial Americana) recebeu nos últimos três anos milhares de mensagens de pessoas desesperadas para saber se há possibilidade de o mundo acabar em breve. Seitas que aguardam o fim dos dias se proliferam em vários cantos do planeta e até o governo do México, região onde viveram os maias, quer tirar proveito da febre do fim do mundo. As cidades que conservam as ruínas da antiga civilização devem receber 52 milhões de turistas em 2012, 30 milhões a mais do que o habitual. Contar com o auxílio divino no momento final, no entanto, não tem sido o suficiente para todos que esperam terremotos, tsunamis e outras calamidades em 2012. O americano Dennis McClung, morador da cidade de Phoenix, no Arizona, ganhou fama por transformar a casa em que vive com a mulher, Danielle, e os filhos, Caden, 4 anos, e Vedah, 2, num verdadeiro refúgio antiapocalipse. Desde 2009 a família se prepara para uma possível explosão solar em 2012, que comprometeria o funcionamento de serviços básicos como luz, água e comunicações aqui na Terra. "Se os Estados Unidos saírem do ar por causa de uma explosão solar, todos terão apenas alguns dias de água, pouca comida e em uma semana viveremos no caos", diz McClung. Para aumentar suas chances de sobrevivência, o webdesigner desenvolveu uma estrutura autossuficiente no fundo do quintal, que inclui a criação de tilápias, galinhas e cabras e o cultivo de vegetais e folhas. Caso tenha que fugir de casa, comprou máscaras e roupas à prova de substâncias tóxicas e radioativas. O americano Peter Larson também construiu um bunker a uma hora de sua casa, em Salt Lake City, no Utah, para os 12 membros da sua família. A porta suporta até 36 toneladas de pressão e há comida para dois anos. O medo de Larson é que o mundo acabe num ataque nuclear. "As chances de um holocausto estão maiores com o ingresso do Irã e da Coreia do Norte no clube de países nucleares", diz. Se as novas tecnologias que possibilitam maior proteção contra as possíveis tragédias propagadas para 2012 são modernas, o fim do mundo não tem nada de novo. Há milênios, profetas das mais diferentes crenças e religiões vêm a público para defender datas que marcariam o apocalipse. Felizmente (e obviamente) todos falharam até aqui. O americano Harold Camping, um dos arautos do fim dos tempos mais fracassados do mundo, já previu e errou o dia do juízo final três vezes. Isso não o impediu, porém, de conquistar seguidores até no Brasil. No bairro de Nova Gameleira, em Belo Horizonte, fica a sede nacional da Family Radio, organização criada por Camping. Em maio de 2011, o líder brasileiro do grupo, Harold Gulli – que mora nos Estados Unidos – veio ao País para divulgar o fim do mundo entre os brasileiros. Com um pequeno bando de seguidores, distribuiu panfletos em São Paulo, São Bernardo do Campo e São José dos Campos, pedindo às pessoas que se arrependessem de seus pecados. Mas o fim dos dias, marcado por Camping para 21 de maio, não aconteceu.
Mas, para alguns fiéis do fim dos tempos, outros sinais indicariam que o reino dos homens sobre a Terra estaria prestes a acabar. Misturando arqueologia e ciência, profecias correm a internet afirmando que em 21 de dezembro de 2012 um raro alinhamento do Sol com os planetas do sistema solar poderia interferir na gravidade da Terra, causando maremotos, terremotos e muitas mortes. "Esse alinhamento, de fato, acontecerá, mas não significará absolutamente nada", diz o astrônomo Carlos Henrique Veiga, coordenador da Divisão de Assuntos Educacionais do Observatório Nacional. Segundo o especialista, o fenômeno já ocorreu milhares de vezes desde que nosso planeta existe e nunca gerou consequências perceptíveis. "Cataclismas, tsunamis e terremotos não são ocasionados pela atração gravitacional dos planetas", reforça. Seja por motivos religiosos, seja por motivos científicos ou ecológicos, o apocalipse sempre despertará o interesse e a curiosidade do homem, independentemente das crenças de cada um. "Pensar no fim do mundo nos desperta um sentimento de ambiguidade", explica Teresa Creusa Negreiros, doutora em psicologia clínica e professora da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ). "Ao mesmo tempo que tememos um fim coletivo, também o desejamos, pois assim não deixaríamos a vida sozinhos." Se o dia 21 de dezembro de 2012 terminar como todos os outros, isso não significará, contudo, o fim das profecias sobre o fim do mundo. Será só mais uma possibilidade de lembrar a célebre frase de Santo Agostinho, no livro "A Cidade de Deus": qualquer previsão que fale em uma data não passa de uma fábula ridícula.
Colaborou Débora Rubin |
sábado, 31 de dezembro de 2011
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Wow! Gostei bastante deste post
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