Estudo genético confirma origem geográfica dos judeus
Um novo estudo descobriu que os judeus compartilham um vínculo genético com os drusos e os cipriotas e confirma que a diáspora judaica manteve uma forte coesão em nível do DNA apesar de seu longo afastamento do Oriente Médio, afirmaram cientistas na quarta-feira (9).
O trabalho, publicado na revista britânica "Nature", faz parte de uma investigação mais ampla sobre a migração humana baseada em aglomerados de diferenças microscópicas detectados no código genético.
"Descobrimos evidências de que as comunidades judaicas se originaram no Oriente Médio", explicou o cientista molecular Doron Behar, do Rambam Health Cae Campus, em Haifa, Israel, que conduziu a pesquisa reunindo especialitas de oito países.
"Nossas descobertas genéticas concordam com registros históricos", acrescentou.
O trabalho consistiu em coletar amostras de DNA de 121 pessoas residentes em 14 comunidades judaicas ao redor do mundo, de Israel ao Norte da África, da Europa à Ásia Central e à Índia.
As amostras foram, então, comparadas com as de 1.166 indivíduos de 69 populações não judaicas, inclusive o país "anfitrião" ou região onde havia uma comunidade judaica.
Introduzindo uma nova série de dados na pesquisa, os cientistas acrescentaram a análise de 16 mil amostras do cromossomo Y -encontrado apenas em indivíduos do sexo masculino- e de DNA mitocondrial, que é transmitido pela mãe.
Os cientistas procuravam marcadores de combinações denominadas polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs, na sigla em inglês).
Os SNPs são mudanças únicas no genoma que se aglomeram em padrões distintivos entre humanos que vivem juntos em grupos durante milhares de anos. Os padrões são um indício útil de como as etnicidades se desenvolveram através do isolamento geográfico ou da concentração social.
O estudo, como esperado, confirmou o Oriente Médio ou Levantino como origem dos judeus, conforme documentado nas antigas escrituras hebraicas.
Esta linhagem é claramente visível nas comunidades de hoje, tempos depois de os judeus terem sido expulsos de Israel.
No entanto, mais inesperada foi a descoberta de que padrões judaicos de SNPs eram mais próximos dos cipriotas e dos drusos do que de outras populações do Oriente Médio.
Segundo o estudo, os judeus da diáspora, fortemente ligados por tradições sociais, culturais e religiosas, mantiveram de modo geral uma forte coesão genética, embora também tenha havido uma indução de DNA em menor ou maior grau da população "anfitriã".
"As comunidades judaicas parecem ter uma coesão com o reservatório genético do Levantino, mas mesmo entre as comunidades judaicas, ainda se vê como elas se inclinam para a população 'anfitriã'", disse Behar.
Nas populações não judaicas, os aglomerados de SNP confirmaram um relacionamento próximo entre beduínos, jordanianos, palestinos e árabes sauditas.
Os padrões em amostras de egípcios, marroquinos, bérberes e iemenitas, no entanto, foram mais similares a populações do sul do Saara.
Uma pesquisa prévia sobre SNP deste tipo foi revelada no chamado Projeto HapMap, que ajudou a lançar luz ao cenário migratório "Out of Africa" (Fora da África), segundo o qual todos os humanos anatomicamente modernos -Homo sapiens sapiens- descenderam de ancestrais que se aventuraram de sua África natal, cerca de 50 mil anos atrás, e colonizaram o mundo.
FALSA NOÇÃO DE RAÇA
Temendo ser arrastados para um debate sobre a falsa noção de raça, os cientistas afirmam que os aglomerados SNP não são um indício para quaisquer diferenças sobre saúde, inteligência ou habilidade humanas.
Os aglomerados de DNA não afetam os genes, partes do genoma que codificam as proteínas que fornecem a constituição física do corpo, disse Behar.
Ele acrescentou que ficaria decepcionado se sua pesquisa fosse mal utilizada para a construção de perfis genéticos, como suporte por exemplo ao debate de "quem é um judeu?", que discute quem tem o direito automático à cidadania de Israel.
"É muito importante para mim mencionar aqui que como um cientista, a genética não tem nada a ver com a definição da identidade judaica", afirmou Behar.
"O judaísmo é uma religião plural. Qualquer um no mundo pode decidir um dia que quer se converter ao judaísmo e neste caso, obviamente, a genética não interfere... A genética não conseguiria provar ou descartar a identidade judaica de um indivíduo", concluiu.
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